Isabela não era uma dessas pessoas. Mas era cercada delas.
Tropeçou em um pé que lhe puseram na frente. Quase caiu e todas riram. Porque elas gostavam da queda. Isabela era o tipo de menina que acreditava; que não perdia a esperança; que apesar de sua vida não ser lá um exemplo de felicidade, vivia sorrindo. Uma menina que, mesmo sendo criticada, menosprezada e caçoada por aquele grupinho de meninas dia após dia, levantava a cabeça e seguia como se nada lhe tivesse ocorrido. E era isso que as incomodavam. Elas precisavam que Isabela se importasse, que caísse no buraco da dor. E naquela segunda-feira, era dia de crueldade. Dia para falar algo que a arrasasse por completo. Porque elas não aguentavam mais toda aquela indiferença.
- Ei, Isafeia! - Começou uma, debochando. Todas riram. - Falta um mês para seu aniversário, não é mesmo? - Fez uma pausa. Como não houve resposta, prosseguiu - Afinal, como você passa seus aniversários, hein? Não te dá vontade de não existir quando se lembra que quando você nasceu sua mãe morreu? Que existência mais inútil a sua! É um nada na vida, e ainda tirou a vida da própria mãe. Que pena do seu pai... Você deve ser um desgosto pra ele.
Isabela fitou seriamente uma por uma das quatro meninas nos olhos. Logo, repuxou os lábios para o lado direito. Seu sorriso era encantadoramente torto, como o da sua mãe.
- É uma pena que vocês pensem assim. - Disse em tom de sincero lamento sacudindo lentamente a cabeça, e continuou a andar.
Atrás dela, quatro meninas se entreolharam e ficaram olhando-a caminhar, sem entender o que ela quis dizer com aquilo. No fundo se corroíam, porque Isabela não se doera.
Já ela, andava tranquila. Talvez tivesse sido melhor nem ter dito aquilo, porque algumas atitudes não merecem nem uma palavra de resposta. Mas por Deus, Isabela não se conformava. Questionava como podia a maioria das pessoas se preocupar só com o lado ruim das coisas - Inclusive quando se trata da vida alheia. Tampou metade do rosto com a mão esquerda, pensativa. Ah, viver dessa forma sim é que deveria ser triste!
Seu pai lhe havia dito claramente: "Eu fiquei sem chão quando sua mãe não voltou a respirar nem com os choques elétricos no coração. Mas quando olhei pra você e ouvi seu choro, eu senti meus pés pisando em terra firme e dei o sorriso mais satisfeito da minha vida. Era minha filha que estava diante de mim: o fruto do amor entre eu e a pessoa que eu mais amava. Essa pessoa tinha partido sim, mas me deixou o maior presente de consolo: você. Eu não teria mais sua mãe, mas agora tinha você. E, filha, é assim sempre que devemos enxergar as coisas. O lado ruim é sempre triste, lamentável. Mas pra que ficar pensando nele e chorar, se sempre há um lado bom para viver e então sorrir?"
Pois é... Isabela sabia que jamais alguém ganhou a vida se lamentando. Fosse pelo motivo que fosse.
Um comentário:
Belo texto. Sincero e verdadeiro no começo sobre a frieza humana.
Sentimental no final sobre o sentimento humano.
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