quinta-feira, 29 de setembro de 2011

A verdadeira beleza

Seria melhor se eu não me propusesse a fazer aquilo. Mas, ainda sim não seria fácil. Porque me doía estar diante do garoto que eu mais amava, e ir escrevendo as palavras apaixonadas que ele me ditava. Só que eu não tinha escolha. Eu o amava demais para não ajudá-lo com aquilo.
“Você é a pessoa mais doce que eu já conheci, Ana. Quer namorar comigo?”
Foi o que escrevi a pedido dele. Eu poderia dizer que não existiria no mundo um pedido de namoro mais frouxo – com todo perdão da palavra – que esse. Só que eu conhecia o Lucas suficientemente bem, para afirmar que havia o mais profundo e verdadeiro sentimento em cada uma daquelas palavras simples. Porque todos estão acostumados com coisas bonitinhas e bem boladas, que cheiram a mentira de tão incríveis. Mas Lucas não fazia rodeios. Era uma virtude dele a simplicidade em ser e pensar. Porque acreditava que a verdade por si só já era uma conquista. Então achava que não fazia sentido escrever algo mais que aquilo, que para ele era tudo.
Assim que terminei, entreguei o papel à ele, que me agradeceu com um sorriso lindo e puro, e saiu porta a fora em direção a sala de aula da Ana, com o papel entre os dedos. Eu o segui mantendo um pouco de distância para que ele não percebesse. Por Deus! Pessoas doces demais, simpáticas demais, são realmente um veneno.
Ele estava quase a virar à direita do corredor que dava para a classe dela. Mas parou seus pés ao ouvir uma risada que era inconfundivelmente da Ana.
- Ele é legal, alto, moreno, gosta tanto de você que nem consegue disfarçar quando vocês conversam. E aqueles olhos azuis dele são lindos! – Dizia uma das amigas dela.
- E por que vocês acham que eu seria a fim dele? Do que adianta, hein? Ser legal, bonito e ter olhos maravilhosos se não enxerga? – Acho que não fui a única que desconjurou após essa fala. Todas as vozes das outras meninas que estavam com ela, se calaram. Mas ela prosseguiu – Ele pode ser tudo de bom. Mas como ele me elogiaria? Jamais na vida eu namoraria com um cego, meninas.
No mesmo instante, Lucas virou-se de costas para o lugar que antes tinha como frente. Amassou o papel e os seus olhos se encheram de lágrimas.
Aquele foi o momento mais dolorido que eu poderia ter presenciado. Eu que sempre estive fielmente ao lado dele e o amava de verdade, não tinha meu amor correspondido. Mas não era isso que me machucava.
No fundo eu tinha pena da Ana, cujo egoísmo e necessidade de se sentir a mais bonita e invejada não permitiam deixá-la enxergar nada além de um palmo do seu nariz.
Voltando ao que me machucava, a causa da ferida era a tristeza de Lucas, que estava desolado e com o coração tripartido em trilhões de pedacinhos. Ele não sabia que eu o assistia. Tampouco sabia que eu estava chorando também, de frente com ele a um metro. Misericórdia, que vontade tive de correr abraçá-lo e dizer que eu sim o amava. E que cego é aquele que não percebe que a vida é muito mais do que ter uma vista. E que amor... é o que há de mais maravilhoso no mundo.
Também diria a ele que era bom que Ana soubesse que não importa como alguém seja fisicamente. Basta que esse alguém não seja cego de espírito e entenda de uma vez por todas que amor é a única beleza. Porque isso de beleza física é só uma imagem. E nada mais.

# Pauta para Bloínquês

3 comentários:

renatocinema disse...

Lindo a conclusão e verdadeiro. A Beleza física é só uma imagem.

Perfeito.

Juliana Guedes disse...

Muito lindo que possamos sempre enxergar o amor na vida

Anônimo disse...

Oi, passando para fazer uma visita, e convidar.

participe: http://iasmincruz.blogspot.com/2011/09/perguntem.html