domingo, 7 de agosto de 2011

A coragem do menino


Ela estava à margem do rio com as pernas balançando dentro d’água. Ele se aproximou sem jeito, sentou-se ao lado e a cumprimentou com um sorriso meio bambo. Ela riu despreocupada, e quis saber o que ele segurava. A pergunta fez o rosto do outro corar e os olhos desencontrarem os dela. Ela tentou tomar o segredo a todo o custo, e ele se afastou dizendo que ela iria saber de todo o jeito, mas que antes deveria o responder primeiro. Ela aceitou a condição de bom grado, sentou-se outra vez e ajeitou o vestido.
E ele a olhou fundo nos olhos com pouca segurança e muita timidez. Pigarreou algumas vezes e a perguntou o que ela tinha feito de mais corajoso até aquele dia. Ela arqueou uma sobrancelha, mas logo fez cara de quem está revirando o passado mentalmente. Seu rosto se iluminou, e então ela disse em seguida que foi quando subiu no telhado para salvar um gato arisco, quase caiu - enfatizou -, o gato e ela. Ele aquiesceu enquanto ela ainda sustentava uma expressão distante e orgulhosa.
Em seguida ela se inquietou querendo saber o que ele tinha feito de mais corajoso também. Ele disse em voz baixa que ainda não o fez, mas que estava prestes a fazer. A menina o encarou confusa, meio perdida nas palavras sem muito sentido do menino. E enfim ele estendeu a mão, deixou que ela visse um papelzinho amassado. Ela o pegou rapidamente, abrindo-o enquanto mantinha os olhos acesos. Ele a observava atento, não queria perder um só de seus movimentos.

Na margem da folha amassada tinha uma caligrafia pueril, meio bamba como o sorriso daquele que agora tinha a mãos escondidas nos bolsos de seu jeans velho. E ela leu em voz baixa:

Não sei como dizer, mas acho que tenho gostado de gostar de você.

Ela o encarou em seguida.  Tinha uma expressão séria, e ele se assustou, nunca tinha visto aquele rosto tão sem sorrisos como naquele instante. Ela se aproximou beijando a bochecha corada do menino, e dizendo em tom doce que por sua parte ela já tem certeza de que tem gostado de gostar dele. Ele a olhou sem jeito, com um sorriso pequeno de lado. Ficou ali sentando enquanto ela dizia que já tinha de ir. Ele acenou, ela sorriu o chamando de bobalhão já ao longe, assumindo que salvar um gato de cima do telhado foi muito bom, mas não tão bom quanto aquilo - a coragem do menino.

2 comentários:

Shuzy disse...

Menino, menino, empresta-me um tiquinho da tua coragem?

Jéssica Trabuco disse...

Nossa, que lindo.
Coragem mesmo. Mas é questão de sobrevivência. Chega uma hora que encontramos aquele alguém com quem não se pode mais viver sem.