sexta-feira, 22 de julho de 2011

Carta para você 5



Leonardo,

E então era para eu te ligar. Não tive coragem. A verdade é que se eu escutasse sua voz uma vez mais, sei que desistiria, que voltaria atrás, você me convenceria a não fazer e daria aquele sorriso suplicante de sempre, e mais uma vez daria um jeito de acalmar meu coração. Não aguento mais com isso. Eu não quero me sentar, esperar acontecer, que essa coisa de sempre se ajeite e gastemos mais nossas vidas assim tão inercialmente. Não sei qual o jeito delicado de dizer isso, mas por favor, saia de minha vida. Devolva aquele tempo em que nos conhecemos, que era divertido brincar de sedução, que não faltavam risadas, que insistíamos em evitar o apego, que a coisa mais bonita era olhar no fundo dos olhos. Onde a gente veio parar, meu bem? Brigas em cima de brigas. Seu ciúme me sufoca, nosso drama mais ainda. Então acho que já é tempo da gente concordar: que cada um tome seu rumo. Talvez eu já esteja embolando essa carta toda, misturando as sequências, os pensamentos, sem uma ordem linear convincente. Mas como é que a gente ordena as coisas do coração? Como é que a gente hierarquiza os sentimentos? E é exatamente assim conosco: tornamo-nos confusos. Não sabemos até onde nossa razão se estende e quando estamos no limite, queremos-na a pulso. A gente se perde, e briga. A gente não se respeita mais, e briga. É o que chamam de desgaste, é o que eu entendo como desespero. Então, meu bem, que sigamos. Que lembremos dos bons momentos, dessa paz serena que por vezes conquistamos, da placidez de nossas tardes, dos bons momentos em que no silêncio nossas respirações ofegavam, das risadas, meu bem, das risadas. A minha herança pra você, serão os abraços, os beijos e aqueles sonhos que nos rodeavam. A minha herança para você é o amor capaz de fazê-lo tranquilo. Não se esqueça, meu bem, que do fundo do meu coração eu te amei, é desse amor que eu falo. Mas hoje não, não, não é o que eu sinto mais. Então, por isso é que estou indo embora. Não me procure, não, não. Não volto. Eu não desaprendi a sumir, estou indo pra longe, para outra vida, ver o que ainda dá tempo de fazer, quem sabe? O que eu quero que você saiba é que te desejo o melhor, que o que restou de nós perdure, que alguém melhor que eu surja; e esse alguém te faça feliz, para sempre.
Que as nossas vidas se pintem de esperança.


Meu bem, esse é o nosso adeus.



Com todo amor que tivemos,
Hélio.




# Pauta para Bloinquês.

4 comentários:

Angus Cailleach disse...

Eu achei de uma leveza tamanha, por mais que se trate de algo chato, triste. Que bom que postaste nessa madrugada, foi bom ler essa carta, me fez pensar em algumas coisas.

Me lembrei de uma música da banda Unidade Imaginária, se puder ouça, se chama "Montes Claros".

Notei apena um erro que acredito ser de digitação no trecho "è o que chama de desgaste", o acento está incorreto e é começo de frase. Fora isso, impecável.

Quando quiser: www.matandoaspalavrasdedentrodemim.blogspot.com

Parabéns e boa sorte.

Angus Cailleach disse...

O link correto é: www.matandoaspalavrasdentrodemim.blogspot.com

Cristiano Guerra disse...

Erro de digitação sim, obrigado, até porque na língua portuguesa as crases só ocorrem com 'a's. Foi um daqueles casos péssimos em que o shift prega uma peça.

Muito obrigado pelo comentário. (:
Adoro quando as pessoas vêm assim.

Any disse...

adoro ler o que escreve *-*

se puder, passa aqui:
http://saber-sonhar.blogspot.com

beijos