terça-feira, 7 de junho de 2011

Quando saí para te buscar













Daí eu sentado junto duma lanchonete do aeroporto, esperando o avião chegar, pousar e as pessoas pegarem suas malas e saírem. Só pode ficar aqui se consumir alguma coisa. Tá bom, me vê o cardápio… hm, qual o tamanho da xícara? Caralho! desculpa, desculpa, me traz um puro então. Pronto. Daí eu sentado junto duma lanchonete dessas lanchonetes de aeroporto que vendem tudo custando o olho da cara tomando café numa xícara da Barbie, de fones no ouvido e Mutantes na cabeça, Não Vá Se Perder Por Aí. Veja como vem, veja bem, veja como vem, vai, vai, vem, veja bem, como vai, vem, veja como vai, veja bem, veja bem como vem, vai vem se ela vai também.
Olhando pro celular de dois em dois minutos pra saber a hora, desenhando dinossauros no guardanapo e de paletinha de plástico, dessas que se usa pra misturar o café e o açúcar, na boca pra lá e pra cá. Vôo atrasado. Ai, meu caralho. Tá, tá bom. Olha, me vê outro café, por favor? Todas as outras (poucas) mesas estão ocupadas, quem sabe de gente que também está esperando pelo mesmo aviãozinho que eu, ou outro antes, ou depois, ao mesmo tempo, quem sabe. Daqui a pouco todo mundo vai pra frente da porta pra se acotovelar e tentar ver a pessoa que está chegando, pra acenar, às vezes chorar, pular e soltar gritinhos, só pra mostrar prontamente: estou aqui.
Posso sentar aqui com você? Hm? É que as outras mesas estão ocupadas e com muita gente, você é o único que tá sozinho na mesa e, sei lá, se puder… Claro, senta. Obrigada. Quanto é esse café? Eu disse o preço. Caralho! desculpa. Eu falei a mesma coisa, não se preocupe. Bom, vou tomar um também. Qual seu nome? Prazer, o meu é Paula. Pra fingir educação eu tiro um dos fones e continuo com Mutantes na cabeça, mas baixinho, só de trilha de fundo, Não decida, nem pense, não negue, nem se ofereça, não queira se guardar, não queira se mostrar, queira, queira. Qualquer Bobagem. Ficamos um tempo em silêncio, ela puxou um notebook e começou a ler discretamente.
Não prestei muita atenção até quando o café dela chegou e eu vi que não era só uma leitura. Era O Estadão. Só por isso achei que valia uma conversa sobre nulidades, pro tempo passar e essas coisas – não que eu não continuasse olhando a hora no celular, mas agora era de cinco em cinco minutos. Questionário padrão das relações sociais. Você faz o quê? Estudo. Trabalha? Não.  Faz alguma outra coisa? Não muitas.. desenho dinossauros em guardanapos, serve? ela riu e fez que sim. Bom, escrevo. Escreve tipo escrever livros, etc? Não, não, quem dera, só escrevo mesmo. Então é escritor. Não, não, isso passa longe até da minha pretensão. Você disse que escreve, certo? Isso. Escreve bem? Normal, às vezes mal. Tem alguma coisa sua aí? Tem internet aí, né? Tem. Daí mostrei o blog, ela passou vinte e poucos minutos lendo, lendo muita coisa e muito rápido.
Terceira pessoa chega à mesa, encosta ao meu lado e sorri. Oi. Paula e eu olhamos pra cima. Era ela, a pessoa. Não tem muito o que pensar, levantei e segurei forte pela cintura e pelos ombros como se caso eu soltasse aquele corpo virasse pó. Senti a carótida pulsando forte com o nariz encostado no pescoço. Soltei depois de um tempo e apresentei as duas, sentamos e conversamos um pouco. Quanto é esse minicafezinho? Caralho! desculpa, desculpa. Me traz um!

#Conto de Felipe F. Castro do blog Janela do Mundo. Todos os direitos respeitados.
  Não porque gosto dos seus contos, mas sim, porque várias pessoas gostaram.
  E então, segunda vez que te convido para aqui. (Primeira publicação)
  Muito obrigado, meu amigo, novamente.

Um comentário:

renatocinema disse...

A vida simboliza nos altos e baixos de aviões e aeroportos.

Quanta melancolia, sabedoria e riqueza.

Que os encontros e desencontros façam da nossa vida pessoas melhores.