O cavalo já cansara e ainda faltava algum tempo para que enfim chegasse. Era só ansiedade, daquela cuja sensação impede o coração de qualquer palpitada. Resolveu descer ali em qualquer árvore, pôr o cavalo pra pastar e deitar por, quem sabe, duas longas horas. Já faziam três dias desde que montou mochila e largou o ofício. Precisava vê-la, precisava contar a verdade. Sem dar satisfações a ninguém partiu para de onde, anos atrás, viera atrás de emprego. Tinha-o conseguido. Ourives, aos 16 anos; agora com 20, grande reputação na cidade. Não interessava. Deixara ao longe a coisa que mais lhe importava. E sabendo do que agora sabia, jamais deveria ter feito. Voltaria, tinha de abraçá-la e, mesmo sendo a única coisa que pudesse fazer, que naquele abraço coubesse toda a saudade que dia a dia sepultava no peito. Faltava pouco.
O carteiro nunca chegou.
A moça trançava o cabelo com uma delicadeza que em canto nenhum se via. Com o corpo semi-nu, o que apenas a cobria era uma leve manta branca, sentada com as pernas cruzadas, de frente a um colossal espelho. Não havia tristeza nos seus olhos, havia incompreensão. A vida tem mesmo dessas cruéis brincadeiras de fazer com que a gente não saiba, com que a gente não possa saber. Em algumas horas, estaria lá, enfrentando dos maiores momentos de sua vida. Não importava muito, jurara que não iria sentir nada. Trançava o cabelo porque se preparava estaria bonita. Estaria, estaria; não tinha muito a se fazer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário