segunda-feira, 28 de novembro de 2011

O doente e puro amor

Um quarto branco e sem móveis. Uma porta caindo aos pedaços e nenhuma janela. Eu sabia que poderia encontrá-lo ali. Uma garota apaixonada sempre sabe onde seu amor está.
Era oito horas. Devido o horário de verão, o céu estava começando a pegar cor de noite ainda. Uma boa hora para chegar onde ele ficava. Porque logo ele chegaria. De alguma forma eu sentia que ele sempre chegava nesse horário.
Sentei-me num canto da parede onde a luz da lua não iluminava, pois ali as telhas do teto não estavam quebradas. Abracei minhas pernas, ansiosa pelo momento em que ele chegaria.
Demorava. Olhei para cima, através da parte onde o teto era descoberto, e avistei um breu no céu tão puro quanto o amor louco que eu sentia por Raúl. Louco, porque eu sabia quem ele era. E ainda sim o amava.
Eu pensava em qualquer coisa. Menos em ir embora dali. Aquela noite eu poderia morrer. Mas não sairia de lá sem vê-lo. E interrompendo meus devaneios, ele apareceu na porta velha, abrindo-a com um soco tão nervoso que quase a fez se desprender da parede.
A luz do luar reluziu em seus escorridos fios de cabelo mais negros que a noite. Sua pele branquíssima nem precisava de alguma luz para ser vista no escuro daquele quarto. Seu peitoral largo chamava mais atenção que as manchas de sangue em sua camiseta também branca. E além de tudo, ele era alto.
- Raúl! – Exclamei com uma alegria inquietante enquanto meus olhos se acendiam como chamas ao vê-lo chegar.
Ele veio seco em minha direção, me fuzilando com aqueles olhos azuis lindos e raivosos. Eu não sentia nada, além da vontade de querer tê-lo próximo de mim.
- Não faz ideia do quanto quis que esse momento chegasse. – Eu falava fascinada com a beleza dele, com sua presença – Raúl... Eu sou apaixonada por você. – Falei de graça, como uma adolescente retardada. E talvez eu fosse mesmo. Mas era o que eu sentia.
Ele poderia ter ficado pasmo enquanto me olhava assim que eu disse isso; poderia ter me chamado de louca por estar ali. Mas, ele tirou uma pequena faca do bolso e veio para cima de mim, com aquela delirante vontade de me tirar a vida, nos olhos.
Encostou a lâmina fria em minha pele quente, senti um arrepio. Então ele foi cortando devagar, porque sabia que assim era mais dolorido. Fui sangrando, sangrando. E quando mais doía mais eu gostava. Porque era ele, o meu amor quem me cortava.
Ele estava me matando. Mas que culpa ele tinha? Eu sabia que ele era um assassino psicopata quando me apaixonei por ele. E gostava disso. Ah, que amor puro!

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