terça-feira, 13 de setembro de 2011

Em dias como aqueles

Fazia frio lá fora e chovia. O mesmo não acontecia dentro de casa nem metaforicamente dizendo. Em dias assim, Matheus e eu adorávamos passar uma boa parte do tempo frente a janela do meu quarto, tomando uma xícara de chocolate quente e fazendo desenhos na vidraça embaçada devido ao frio que lá fora fazia. Era bobo. Mas de que importava? A gente se divertia.
- Anda, diz que fica mais um pouquinho! – Pedi sorrindo, dando aquelas piscadinhas bonitinhas que damos para que as pessoas não resistam.
- Eu devia ser durão com você pelo menos uma vez e me pôr a caminho de casa. Mas você sorri desse jeito! – Ele me respondeu esboçando aquele riso fofo e sem jeito de quem perde a partida, mas perde feliz porque não tinha a mínima intenção de ganhar.
... Quem me dera pudesse fazer a chuva também ceder ao meu pedido, e então ficasse chovendo mais míseros minutos, ao menos. Mas não podia.
Ah, como me eram doloridos dias como aqueles! Dei um gole no chocolate quente e pousei a xícara sobre a janela, cuja vidraça suportava a chuva forte e o vento de lá de fora. Agora também não havia conseguido deixar minhas lágrimas mortas ou fazer com que elas apenas tivessem nascido nos olhos, sem permitir que elas tivessem encontrado o caminho ao longo de minha face. Elas nasceram num repente e gritaram vida mesmo.
Sentada de lado, encostei minha cabeça na janela. Chorava silenciosamente, com lágrimas pesadas e vivas. Se a chuva tivesse demorado um pouquinho mais para cessar, o meu amor teria saído um pouquinho depois de casa e, aquele carro que o pegou atravessando a rua que fica à três quarteirões daqui, não teria tirado a sua vida.
Mas não culpo a chuva que parou de cair em hora errada por nada. Acredito muito que as coisas têm um motivo de ser. Se ele tivesse saído um pouco mais tarde, talvez outro carro o pegasse, ou sei lá. Mas o que me doía, é que em dias como aqueles eu não sabia se chovia mais lá fora ou dentro de mim. Provavelmente um lugar tentava ser mais chuvoso que o outro. E o fato é que nada tirava do meu peito a dor de tê-lo distante. Agora ali em meu quarto só estava eu e minha xícara de chocolate quente. Minha dor me fazia companhia. Mas então lembrei o tanto que Matheus detestava me ver mal. E também recordei que a primeira vez que ficamos juntos ali frente aquela janela num dia de chuva, nem namorávamos ainda e, ele que teve aquela idéia - só para que eu me distraísse, porque eu estava chorando. Sempre ficamos ali desde aquele dia então, como se eu nunca soubesse que aquilo ali era só para eu me sentir bem. Mas sempre funcionava. Logo, por que haveria eu de estar chorando agora?
Doía sim pensar em ter Matheus distante de mim. Toda vez que eu pensava, doía. Só que caí na real: Meu coração batia. E enquanto ele estivesse pulsante, Matheus estaria ali dentro.
Com as costas das minhas mãos enxuguei as lágrimas que escorriam em meu rosto, repuxei meus lábios num sorriso sem mostrar os dentes. Aquele lugar era pra eu me distrair e não chorar. Peguei a xícara, dei mais um gole no chocolate que já havia esfriado. Lembrei bem a mim mesma que as pessoas só morrem literalmente, quando permitimos que elas desapareçam de dentro da gente. Comecei a me dar forças para não mais chorar ali em qualquer outro dia como aquele - como uma apaixonada não correspondida que pede olhos que não procurem alguém no meio da multidão.
Passei a me sentir mais calma. Porque as sensações mudam à medida que nossos pensamentos vão dando lugar a outro ponto de vista.

# Pauta para Bloínquês e Créativité.



2 comentários:

Anônimo disse...

Oi, vim lhe convidar para um concurso do blog.
Que tal falar de um autor que admira ?
Saiba mais nesse link :

http://iasmincruz.blogspot.com/p/especial-1-ano.html

flor do lácio disse...

Parabéns, Pela conquista no Créativité belíssimo conto. Marcio Campos