domingo, 12 de junho de 2011

Àquele silêncio ensurdecedor

E quando eu pedi silêncio, eu o queria em pequenas doses. E em dias alternados, apenas para não me esquecer do som que ele faz. Mas então você se calou por inteira, e nem os seus olhos eu conseguia mais ler.

Comecei a vagar pela casa como um fantasma que o único som que escuta é o dos próprios pensamentos conflitando-se. A casa tornou-se refúgio do vazio, e por vezes eu ainda ouvia o som da TV, ou de talheres tocando a porcelana florida que você comprou sorrindo. Mas será que você ainda nota as pequenas flores gravadas nas bordas de cada prato? Eu não sei, porque na noite passada em que eu a fiz essa pergunta, você fingiu que não havia ouvido-a.

Eu sempre fui amante do silêncio, mas o meu amor a você pertence. E isso já não faz diferença, porque na verdade você sempre quis ser a única; sempre precisou ter a atenção voltada inteiramente para você. Isso me faz lembrar da vez que eu apenas fiz sinal positivo com a cabeça quando você veio me contar sobre a sua promoção no trabalho, e aquela foi a primeira vez que brigamos de verdade. E no dia seguinte você me perdoou, porque sempre teve um grande coração. Mas dizem que até os grandes potes um dia acabam saturados, e acho que foi isso o que aconteceu com você. Saturou-se do meu silêncio e da minha falta de atenção, e nesse exato momento sei que pensa que cometeu um grande erro ao casar-se comigo.

Sento-me na mesa, e encaro a sua expressão indiferente a minha frente. Contraio-me de dor, pois ver-te assim é realmente doloroso para mim. O brilho que eu via em seu rosto não está mais lá, e eu penso em dizer que gostava quando os seus lábios moviam-se rápido e você gesticulava enérgica; quando começava uma nova história sobre filosofia ou sobre as banalidades do noticiário. E então percebo que na verdade nunca senti falta do silêncio, não quanto sinto falta da sua voz.

Você está de olhos baixos, e eu pigarreio.
- Me desculpa. – minha voz soa falha. Mas você a ouve, pois para de cortar a carne em seu prato. – A falta que eu sentia do silêncio nem se compara com a falta que eu sinto da sua voz; da sua energia comunicativa; dos seus sorrisos cheios de dentes; e da sua alegria que fazia a minha vida ter sentido. – levantei-me colocando as mãos em seus ombros. Você suspira, e eu não sei dizer se é de exaustão ou alívio.
- Você errou comigo. – seus olhos lacrimejam. Eu passo as mãos em seu rosto, porque não consigo olhá-la dessa forma.
- Eu sei... – suspiro pesado. – Você consegue me perdoar? Eu vou tentar mudar, porque por mais que eu goste do silêncio, eu a amo. – encaro o seu rosto triste, e beijo as suas pálpebras. Antes isso a fazia sorrir, e hoje isso faz com que você derrame mais algumas lágrimas.
O silêncio grita em meus ouvidos enquanto eu observo-te sem conseguir traduzi-te.
- Eu o perdôo. – diz enfim, me oferecendo um sorriso cansado. Abraço-te, e você aninha a cabeça em meu peito.
- Não vou mais errar assim com você, isso é uma promessa. – sussurro em seu ouvido. E você suspira mais uma vez, mas dessa vez sei que o suspiro é de alívio.

E desse dia em diante, o silêncio só tem importância quando estamos presos um ao outro, e você me olha com aqueles olhos expressivos que exibe por aí, mas que no fundo sabe que o brilho só estende-se quando enlaçam-se aos meus.

2 comentários:

renatocinema disse...

Lindo perdão num belo reencontro.

Eu que amo o silêncio...adorei.

Jéssica Trabuco disse...

amor perdoa... lindo!